quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Era uma vez....

A concepção de Neisa (euzinha) por Josmar Fevereiro:
"Certa noite, em plena década de setenta, o Brasil ainda mergulhado nas trevas da ditadura militar, um jovem casal entediava-se a olhar para o teto de seu quarto no Morro do Querosene.Ele português, pescador, bigodes fartos, jeitão de Belchior. Ela interiorana, letras na USP, professora, bochechudinha.Gauches na vida, como a maioria das pessoas interessantes da época.A Lenda rezou para mim que, naquele preciso momento, como se fosse uma idéia luminosa, um pirilampo sobrevoou os dois e quebrou aquele estado de letargia... então eles se amaram como nunca.O pirilampo era na verdade uma fada sapeca que vivia metendo a varinha na vida dos casais lá do Morro.Daí, nove meses depois, nasceu uma menininha linda, com brilho próprio!"

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

"O tempo da gente" Cap1: Alanis



São 6 horas da manhã de domingo. Cai uma garoa fina e o céu, laranja acinzentado, anuncia a chegada de um novo dia. As poucas pessoas que estão na rua ou estão indo pro trabalho ou estão voltando da balada. No calçadão da Braz Leme Dorinha corre, sua ginástica diária para manter a boa forma. No aparelho de MP3, que ela chama carinhosamente de "IPobre" por conta da pouca qualidade do aprelho, toca uma seleção feita por ela ontem à noite para a corrida de ontem. Enquanto corre Dorinha observa a paisagem da sua avenida preferida, os prédios, as lojas, as cores, as árvores. Ahhh... As árvores! Desde pequena Dorinha gosta de avenidas com árvores. Ela gostava de adimira-las do banco de trás do carro de seu pai. Deitada no banco se sentia em uma floresta distante e criava as mais incríveis histórias ali! Correndo ela esquecia aquela angustia exasperada que sentia. Ela queria tudo, tudo o que todo o mundo pudesse lhe oferecer imediatamente, não gostava de esperar... Mas o mundo não era assim. Tudo tinha seu tempo e sua vez! Isso angustiava Dorinha: ter que esperar...
De repente Dorinha para. As mãos nos joelhos, em uma posição encurvada, a respiração ofegante... Tinha começado a tocar "Ironic" da Alanis Morissette. Ela não se lembrava de ter colocado essa música na sua "trilha sonora de corrida"... Lembrou de Renato...
"It's meeting the man of my dreams/And then meeting his beautiful wife/ And isn't it ironic... don't you think"
-"Se é!" - comentou sozinha.
Ela conheceu Renato nos tempos de escola, nunca nem conversaram. Só sabiam que existiam, às vezes um "Oi!" e só. Mas a danada da tecnologia deu um jeito disso mudar e em um site de relacionamento ela reencontra os amigos da época e Renato. Marcaram um encontro da turma e ela e Renato passaram a noite conversando desde de política até música, passando por literatura, filmes, e umas piadas. Trocaram email e desde a festa viviam se "falando" por email.
Mas ontem, numa balada tranquila com a Cris e a Jú, lá no Japonês, ela viu Renato. Foi até a mesa dele cuprimentá-lo e conheceu sua esposa. Uma morena estonteante, de uns 28 anos, corpo perfeito e olhos verdes... Lembrou na hora da música da Alanis, essa que ela está ouvindo agora, com um aperto no coração. Resolve voltar, andando, se sente sem forças para correr. Uma angustia no peito. Porque raios ela foi colocar justo essa música na seleção? Não consegue se lembrar de ter clicado na música ontem à noite.
- "Acho que foi sem querer"- ela pensa.
Chega no seu apartamento de dois quartos no Jardim São Paulo, joga a mochila no sofá, que fica quase em frente a porta e vai para o chuveiro. Toma um banho demorado e resolve tirar um cochilo. Ela sempre tem sono quando tem um problema que não pode resolver. Toma um gole de água e vai deitar.
O telefone toca, ela o ignora e ele insiste.
-"Que falta de ter o que fazer!"- ela reclama com o pobre do aparelho que não faz mais do que a sua função, tocar quando alguém a chama.
- "Alô..."
Silêncio do outro lado da linha.
- "Alô! Oi!? Quem é?"
O silêncio persiste e logo a ligação é interrompida. Ela desliga o aparelho, mas nem dá tempo dela tirar sua mão do fone e ele toca novamente.
-"O que você quer hein?!" - ela pergunta já irritada com a "criatura muda" do outro lado da linha. Mas desta vez obteve uma resposta diferente da anterior.
(pode ser que continue...)