terça-feira, 25 de abril de 2017

Carta de despedida

A primeira vez em que te enviei flores recebi uma foto sua chorando de emoção.Passamos por muitas coisas e eu acabei terminando nosso relacionamento por não suportar ter que ser metade de quem eu sou. Você fez falta na minha vida e depois de muitas conversas entendi que eu havia agido de forma errada com você e lhe enviei rosas e uma carta pedindo desculpas. Novamente recebi uma foto sua chorando de emoção. Reatamos e você não me suportou por inteira e terminou comigo. Eu, bicho ferido, te ofendi. Enviei rosas amarelas e um cartão de desculpas e só recebi um obrigada.
Precisei de você e você veio ao meu auxílio, num momento de amizade que eu entendi de forma errada, achando que era amor... Te enviei flores para agradecer e novamente recebi apenas um obrigada.
Decidi te enviar um vaso de flores para que você não se esqueça de mim já que flores em vasos duram mais, talvez uma vida. Queria te ver feliz. Novamente recebo um obrigada.
A cada tentativa de quebrar o gelo entre nós recebo um bloco de gelo maior ainda...
Hoje te enviei uma foto minha, essas sempre vinham como uma resposta sua me chamando de "linda". Hoje veio apenas "sorriso lindo", numa tentativa desesperada de quem vê a morte de um grande amor na sua frente respondi "é seu, é pra você" e fez o silêncio. Você viu e nada disse... 
Fiquei pensando nisso, na gente e na nossa história e entendo que é hora de me despedir desse amor, só me resta te esquecer e seguir em frente.
Quero te agradecer por ter tentado me dividir, por ter tentado seguir minha vida, por ter tentado me amar, por ter cuidado de mim sempre que precisei, por ter me acompanhado nessa pequena jornada de 2 anos.
Peço desculpas por não ser quem você gostaria que eu fosse, por não ser perfeita para você, por ser pouco, por não valer mais a pena.
Peço desculpas por você ter se mudado da minha casa e ter desistido de me amar.
Guardarei você, seu sorriso e seu jeito de me fazer sorrir no meu coração!
Adeus

domingo, 9 de abril de 2017

O teu colo

Você não é uma pessoa de se abrir mas também não sabe ficar quieta. Fala muito, às vezes acho que é uma forma de dizer pouco. Sempre muito agitada como quem foge de algo, como fez alguma besteira e quer esconder. Sempre achei que você não seria capaz de me dar um colo silencioso mas eu estava errada, como sempre. No começo era difícil, você queria saber o porque de eu estar ali tão quieta. Mas como eu poderia te contar se nem eu sabia?
O fato é que você foi se aprimorando no quesito "colo silencioso". Ficar alí, protegida das dores do mundo era algo que me acalmava. Um local onde as palavras, rotina do meu trabalho (dos dois ofícios) eram completamente desnecessárias.
Hoje eu preciso dele. Preciso dele para aliviar a minha tristeza mais uma vez, mas hoje não tê-lo faz parte da minha tristeza.
Eu não sabia que a depressão tem várias faces, incluindo uma sorridente. E por não saber sempre procurei alguém que pudesse aliviar essa tristeza imensa no meu peito e você me parecia tão forte, uma guerreira que carregava algumas dores muito parecidas com as minhas. Acho que de forma inconsciente eu te escolhi porque vi em você alguém que fazia o que eu não conseguia fazer, você era forte apesar de toda dor.
Forte é um adjetivo dado a mim constantemente mas que nunca me encaixei, me quebrei tantas vezes consecutivas e quando achei que teria tudo o que eu sempre sonhei recebi um "não me ligue mais" na cara me dizendo que tudo aquilo era mentira, que eu não iria ter nunca isso. E então você apareceu e me deu um sonho de valsa, talvez outra obra da minha fantasia de menina. E eu acreditei que você seria o cavalheiro que me salvaria dessa tristeza, da dor de não ser boa o suficiente, inteligente o suficiente, a dor de não ser suficiente, de não ser amada e respeitada...
Mas você me disse que não quer alguém assim, me chamou de louca mais de uma vez...
Eu não escolhi essa dor e até pouco tempo atrás eu escondia até mesmo de mim mesma o tamanho e a intensidade dela. Desculpe por ter me enganado e obrigada por ter tentado. Você não pode tirá-la mas sempre a fez diminuir, com seu colo silencioso.
Descobri a pouco tempo que apenas eu posso fazê-la passar e estou procurando o caminho para isso.
Espero encontrá-lo. 
Você faz falta.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Sapato novo

Sapato novo é lindo, te encanta e quando você usa, se usar demais, machuca. Machuca porque na loja você, envolvido num sentimento parecido com a paixão, não percebeu alguns detalhes, uma costura no calcanhar, o bico fino demais, o material macio de menos.
Machuca mas você insiste dizendo que ele vai se moldar ao seu pé, vai lacear, vai ficar mais maleável. Mas se continuar usando vai machucar mais e mais.
Assim são os relacionamentos: até que um se molde, laceie vai machucar. Machuca ter que se acostumar com as manias do outro, com os defeitos do outros. Por isso primeiro a gente namora, morre de saudade a semana inteira e se vê só nos finais de semana. Depois de um tempo, acostumados com as esquisitices mais leves um do outro começamos a aumentar a frequência dos encontros, dorme na casa um do outro, almoço no meio da semana. Se tudo continuar indo bem vem o noivado, ou não. Até que por fim a gente se casa, ou mora junto sem fazer nenhuma cerimônia que custa fortunas e dura tão pouco mas deixa a gente tão feliz.
Eu te calcei e gostei tanto que achei que não poderia ficar sem você. No começo não doía até que começou a incomodar, a não conseguir calçar sem dobrar o seu calcanhar e acabar te machucando também. Talvez tenha sido isso, tenha sido aí onde o fim começou.
Eu recuei, disse que não te queria mais, você me machucava demais e acabei te machucando. Machuquei tanto que você não queria mais me calçar e quando calçava ficava um pouco comigo e logo já dobrava meu calcanhar. Eu te incomodava e cada parte minha era indesejada: pais, filhos, passado...
Um agrado, um carinho sempre seguidos de um tapa na minha alma, um insulto. Um prazer em me ver desequilibrada como se isso te desse poder.
Às vezes pensava te que te ouvir sorrir enquanto eu chorava do outro lado da linha. Outras vezes eu ouvia seu sorriso irônico. Você já não acreditava mais em mim, não confiava mais em mim. Me fiz seca, você se fez dura.
Por que me aceitou de volta?
Por que eu quis voltar?
Agora estou me perguntando o porquê de eu te deixar me destratar tanto... Não sei. Essa foi a melhor explicação que encontrei nas suas palavras. Nas minhas encontrei uma culpa que não cabe no peito e que carrego há anos, décadas seria mais apropriado.
Talvez eu deixei você me destratar e me desrespeitar porque eu ache que eu mereça esse pouco de amor e só pouco amor é o que eu devo merecer.
Porque sou pesada demais. Porque sou feita da minha vida, vida que não encaixa no padrão de mulher que você sempre quis: livre como você.
Nos tornamos pouco ao sermos muito.
E eu ainda te amo, mesmo depois de ser jogada fora, largada na calçada da vida, resgatada por aqueles que me amam.
Não sei como terminar, ando concentrada em apenas respirar porque ainda sinto você dentro de mim, ainda estou moldada pra você...
Quem sabe um dia te encontro numa outra esquina, quem sabe já reparada e nova, mas mais maleável? Quem sabe nesse dia a gente sirva uma para a outra...
Quem sabe?
Até mais!