quinta-feira, 12 de março de 2015

História de uma boneca de pano


Minha mãe me encontrou num domingo de sol fraco, numa prateleira de floricultura, em meio a muitas outras bonecas e flores.
Para que você entenda: chamo de mãe a mulher que me deu vida, me deu um propósito e uma missão e não aquela que me confeccionou. Porque mãe não é aquela que faz a gente, mas sim aquela de coloca um pouco dela na gente, que completa a gente de amor, que nos deposita seus sonhos, que nos acaricia a face. Fazer é fácil, difícil mesmo é ser suficientemente boa, entender de amor.
Pois bem, recomecemos então minha históira. Fazia um sol fraco no dia em que eu nasci. Era domingo e minha mãe me encontrou em uma prateleira da floricultura. Ela me olhou com olhos ternos e disse "É essa! Ela é perfeita!"
Me senti muito importante quando ela disse isso me pegando no colo e me abraçando! Nasci assim, com o propósito de ser abraçada por alguém que ela amava muito! Pude sentir isso no abraço que ela me deu! Era assim que a outra pessoa deveria se sentir, cheia de amor.
Ela comprou umas rosas e nos levou. Chegando em casa tomei banho de perfume, pois abraço de amor tem que ter sensações, cheiros... Ela olhava para mim e sorria, ajeitava meu cabelo, arrumava meu vestido, me deu uma pulseira de rosas. Achei linda! Era dela... Tinha o amor dela e eu era a responsável por levar essa amor ao seu destino. 
Depois ela colocou em meus braços três rosas vermelhas. Ajeitou as rosas, me ajeitou sentada. Arrumou mais uma vez a pulseira e eu pude sentir a importância que eu estava ganhando. Outros olhares e outros sorrisos. Fui para uma sacola, um cartão me acompanhava
"Para que você não se sinta tão só te envio meu abraço"
E lá fui eu de encontro ao meu destino, um destino doce de fazer sorrir alguém muito amado, de ser o braço, o acalanto, o colo e o abraço nos momentos de solidão. 
Lá fui eu ser amor, ser abraço, ser carinho sem saber o que seria de mim, se seria esquecida num canto, largada numa esquina com o coração cheio de amor, cheio de um amor que não pode ser. Lá fui eu tentar ser o colo silencioso que acalma e consola.
E foi assim que eu nasci. De um par separado, da dor da solidão, do colo vazio e do amor, infinito e verdadeiro amor que nasceu sem querer, de um sorriso numa manhã de outono e que não mais vai voltar...