Minha mãe me encontrou num domingo de sol fraco, numa prateleira de floricultura, em meio a muitas outras bonecas e flores.
Para que você entenda: chamo de mãe a mulher que me deu vida, me deu um propósito e uma missão e não aquela que me confeccionou. Porque mãe não é aquela que faz a gente, mas sim aquela de coloca um pouco dela na gente, que completa a gente de amor, que nos deposita seus sonhos, que nos acaricia a face. Fazer é fácil, difícil mesmo é ser suficientemente boa, entender de amor.
Pois bem, recomecemos então minha históira. Fazia um sol fraco no dia em que eu nasci. Era domingo e minha mãe me encontrou em uma prateleira da floricultura. Ela me olhou com olhos ternos e disse "É essa! Ela é perfeita!"
Me senti muito importante quando ela disse isso me pegando no colo e me abraçando! Nasci assim, com o propósito de ser abraçada por alguém que ela amava muito! Pude sentir isso no abraço que ela me deu! Era assim que a outra pessoa deveria se sentir, cheia de amor.
Ela comprou umas rosas e nos levou. Chegando em casa tomei banho de perfume, pois abraço de amor tem que ter sensações, cheiros... Ela olhava para mim e sorria, ajeitava meu cabelo, arrumava meu vestido, me deu uma pulseira de rosas. Achei linda! Era dela... Tinha o amor dela e eu era a responsável por levar essa amor ao seu destino.
Depois ela colocou em meus braços três rosas vermelhas. Ajeitou as rosas, me ajeitou sentada. Arrumou mais uma vez a pulseira e eu pude sentir a importância que eu estava ganhando. Outros olhares e outros sorrisos. Fui para uma sacola, um cartão me acompanhava
"Para que você não se sinta tão só te envio meu abraço"

Lá fui eu ser amor, ser abraço, ser carinho sem saber o que seria de mim, se seria esquecida num canto, largada numa esquina com o coração cheio de amor, cheio de um amor que não pode ser. Lá fui eu tentar ser o colo silencioso que acalma e consola.
E foi assim que eu nasci. De um par separado, da dor da solidão, do colo vazio e do amor, infinito e verdadeiro amor que nasceu sem querer, de um sorriso numa manhã de outono e que não mais vai voltar...