quinta-feira, 28 de junho de 2007

Não gosto de finais tristes...




Eu sei que eles existem, mas não gosto!
Prefiro os finais felizes, pelo menos não nas histórias inventadas...

A vida já tem histórias tristes demais!

Não que a minha vida seja triste, mas tenho uma porção de histórias tristes pra contar. Enfermeira de UTI, já ví muitos sonhos se acabarem. Eternamente sonhos, impossibilitados de virarem realidade porque a vida se acabou...

No meu primeiro emprego conheci uma enfermeira maravilhosa, antiga na casa, um doce de pessoa. Ela me dizia que os pacientes terminais esperam a pessoa da equipe que eles mais gostam para morrer. Não levei essa conversa muito a sério até que ela aconteceu comigo.

Na época do meu casamento com o "santo" do Carlinhos (é santo, porque só santo pra me aguentar!) tinha um paciente de uns 20 e poucos anos que estava aguardando um transplante de coração. Eram comuns esses pacientes na UTI em que eu trabalhava, eles "descompensavam", passavam mal, e internavam na UTI para melhorarem e continuarem aguardando o tão esperado coração. Mas esse paciente era diferente pra mim...

Ele estava noivo e eu também. Tinhamos muitos assuntos em comum e mesmo quando ele não estava comigo (sob minha responsabilidade) eu passava no quarto dele, no fianl do plantão, para conversarmos um pouco. Davamos boas risadas e eu ia embora.

Um dia contei que ia mandar polir a minha aliança, já que a data do casamento se aproximava. Então ele me pediu, com todo jeito, para que eu levasse a aliança dele para polir também. Quando ficou pronta fui ao hospital espcialmente para levá-la, já que eu já estava de férias "pré-casamento", o Carlinhos foi comigo. Não consigo me esquecer da alegria nos olhos dele quando me viu chegar com a aliança!!!

Fiquei sem vê-lo por uns 20 dias (lua de mel, essas coisas). Quando retorno ao trabalho o encontro muito pior, mãos e pés inchados devido ao coração fraquinho e ao mal funcionamento dos rins. Tubo na boca (que vai até bem perto dos pulmões) pra respirar, com ajuda de um aparelho (respirador), hemodiálises para fazer o trabalho dos rins que já não estavam bem, cateteres e sondas. Muitos tubos... Meu amigo... Não entrei no quarto. Não tinha forças. Minhas colegas me entenderam e fiquei uns dias sem cuidar dele. (os pacientes mais graves ficavam sob os cuidados diretos de uma enfermeira e não de um auxiliar ou técnico de enfermagem- um dia explico a diferença desses 3 profissionais da enfermagem).

No dia 22 de dezembro, chego cedo para trabalhar e vejo que eu serei a enfermeira dele. Relutei para entrar no quarto por quase uma hora. Entrei com uma força que só Deus sabe de onde tirei.

"Bom dia Ale! Hoje sou eu que vou cuidadr de você!"

Segurei sua mão direita, estava gelada, efeito da má circulação.

"Eu já volto! Vou pegar alguma coisa para esquentar a sua mão, ela tá muito fria!!!"

Em poucos instantes eu já estava de volta munida de 2 ataduras de crepe e duas de algodão (a primeira é a famosa faixa e a segunda é aquilo que fica entre o gesso e a pele da gente quando quebramos algum osso). Segurando a sua mão direita com a minha mão esquerda comecei a desenrolar a atadura de algodão na mão fria dele. De repente escuto o alarme do monitor cardíaco (aquele que tem ondas e que aparece nas novelas), olho e vejo que o coração está batendo cada vez mais fraco, devagar.

"Não faz isso comigo não Ale..."

E o coração cada vez mais devagar... Abaixei a cabeça, as lágrimas escorriam sobre a minha face, ele estava me esperando...

3 comentários:

Anônimo disse...

O final feliz foi exatamente que você chegou... triste é quando não temos tempo pra isso!!!

Anônimo disse...

Com sinceridade? Essa foi uma das melhores histórias que você contou até hoje. Parece ficção para outros olhos; mas para mim que te conhece pessoalmente, é como se estivesse contanto isso ao meu lado. Vi sentimento, vi destino; vi crença. Onde muitos acreditam numa derrota, eu vi a vitória. Parabéns.

Neisa Fontes disse...

Meus queridos "anônimos", agradeço pelo carinho. É sempre muito bom receber comentários quando a gente escreve. A gente fica meio perdida, sem saber se está agradando... E os comentários de vocês são de uma doçura ímpar! Muito obrigada!!!