quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Regras e exceções- Cap I

Miranda Comunicações e Eventos, uma empresa familiar, fundada pelo jornalista Heitor Hernandez Miranda, tinha sua sede em um modesto prédio na região central de São Paulo.  Após a morte de Dr Heitor (como era chamado) seus filhos tomaram a dianteira do negócio, pois Dona Firmina, a esposa e sócia majoritária, deixou a gestão da empresa para seus filhos e retornou para a Espanha, lugar que, segundo ela, nunca deveria ter deixado. A sede era em um sobrado construído no início do século passado, adaptado para atender as necessidades da empresa.
A discussão se ouvia na sala de reuniões, que ficava no primeiro andar, logo abaixo da sala da diretoria, onde Liz e Rafael discutiam calorosamente sobre as novas diretrizes que a empresa deveria tomar. Liz é gerente de marketing da "Miranda Comunicações e Eventos" e Rafael o diretor e filho do dono. 
-Me respeita menina! Você me deve respeito!- Grita Rafael já de dedo posto na cara de Liz, ignorando completamente o fato de ser alguns anos mais novo que ela.
Liz, ainda mais indignada e com os olhos em chama, segura o dedo indicador de Rafael com a mão esquerda e se aproxima ainda mais dele e com um tom suave mas muito irritado diz:
-Eu te respeito, mas não sou obrigada a concordar com o seu medo de mudanças! Não fui contratada para fazer o que sempre fizeram! Estou aqui para inovar, quer você goste ou não!
Olhos se encontraram e vozes se calaram. A distância entre os dois era mínima, os corpos quase se encontravam. Era quase um estado de coma mútuo, o olhar não se desviava e nenhum outro músculo de ambos se movia.
Cíntia (irmã de Rafael) e Adriano (marido de Cintia), que ouviram a discussão calorosa da sala de reuniões, entram nesse exato momento:
-Gente! Quando só ouvi silêncio achei que vocês tinham se matado!- disse Adriano, em tom de brincadeira.
Liz e Rafael voltam do "coma" e se separam como se tivessem levado um choque elétrico, com um pulo para trás.
-Vocês estão bem?- pergunta Cintia
Sem olhar para os dois sócios que acabaram de entrar na sala Liz e Rafael respondem em uníssono:
-Sim.
-Não parece! Vocês dois parecem ter saído de um coma!!! Querem água?- pergunta Cínthia, tentando entender o que ocorreu naquela sala e novamente recebe uma resposta monossilábica e em uníssono:
-Sim.
-Ah que ótimo!- disse Adriano em tom irônico- Agora os dois vão brincar de jogral?! Allguém pode me explicar o que está acontecendo antes que eu eu decida analisar o óbvio da cena?
-Desculpa!- novamente em uníssono, mas agora estão falando um para o outro. Liz pega suas coisas em cima do sofá, toma o copo d'água quase de uma só vez e sai da sala. Cintia a segue.
-Meu Deus! O que foi isso? Vocês estavam quase se matando, 15 minutos de berros e seguidos de um silêncio sepulcral! Aí a gente entra na sala e encontra vocês dois em estado vegetativo. Você deu na cara dela?
-Claro que não Adriano!!!- Rafael diz isso e se joga no sofá, sentado, cabeça entre as mãos, cotovelos apoiados nos joelhos.-O que foi isso?
Nunca nenhuma mulher tinha afetado tanto a concentração e bom senso de Rafael como Liz fazia.

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